Uma moça de 25 anos me mandou dois emails.
Num deles ela ironicamente diz, sobre os trolls: Talvez essas pessoas deitem à noite e pensem que salvaram uma alma, porque afinal, conseguiram te mostrar o quão errada você está. Mas a vida delas continua exatamente igual: elas não estão mais bonitas, nem mais ricas, e muitas continuam sem saber onde fica o ponto G.
Ela continua:
Eu acho que você deve encerrar o blog sim, porque a sua saúde tá em jogo e é claro que a gente se ofende com essas coisas. Uma amiga minha diz que a gente nunca deve perder a capacidade de se indignar, porque quando a gente pára de se indignar falta pouco pra gente começar a aceitar. Mas eu desejo, honestamente, que quando essa novela com seu nome, sua foto e (céus, jura que o ser humano chegou nesse nível?!) sua irmã acabarem, você tenha forças pra deixar isso tudo pra trás, ficando SIM mais bonita, (espero que) mais rica, e sabendo onde fica e como aproveitar o ponto G. E tudo isso porque você simplesmente encarou a vida e pediu mais dela, não aceitando somente o que tinha pra hoje.
Ela termina me trazendo lágrimas aos olhos (o grifo é meu):
Que eu poderia estar por perto se estivéssemos por perto. Que a vontade que me deu lendo seus tweets foi de ir aí na sua casa e levar ums salada bem light com frango grelhado pra compensar as calorias num pote de sorvete de sobremesa. Talvez eu penteasse seu cabelo e levasse um satinelle pra gente acabar com os pêlos. Não porque eu tenho pena de você, mas porque eu te respeito e acho que você não é obrigada. Eu acho que mulher nenhuma é obrigada. Que a gente já aguenta merda demais da vida pra ter ainda que parecer uma dama perante a sociedade. E eu nunca tive uma depressão fudida, mas acho que você não deveria ir ao mercado hoje. Pede um Mc Donalds, um China in Box, sabe? Já que não tem muita gente por perto pra estabelecer onde acaba sua liberdade, deixa ela ir até onde a vista alcança. Mas não perca você mesma de vista, porque gente assim faz uma puta falta no mundo.
Como se não bastasse, ela retorna com outra mensagem:
Also, Viviane Mosé diz que solidão é sina e é pra sempre. Acho que depressão também é. Eu, com todos os meus problemas pequeno-burgueses, acho que infelicidade é castigo pra quem ousa sentir as coisas. Pra quem ousa querer viver. Pra quem ousa ser um pouquinho mais do que a sociedade diz que temos que ser. Acho que ter consciência faz de nós infelizes. Mas não é algo que se escolha, a gente é. E sempre vai ser, porque nunca as coisas vão bastar. Não te basta 15 leitores que te amam se existe um troll, porque é esse troll que mostra o quanto a humanidade pode ser desprezível. Não te basta ter namorado escroto se alguém querido tá na merda. Não vai bastar estar respirando, apenas, se você sabe que pode estar viva. Você aprende a sobreviver assim, mas não pode ser feliz. Como Fernando Pessoa em Tabacaria: “Vejo as lijas, vejo os passeios, vejo os carros que passsam, vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, vejo o scães que também existem, e tudo isso me pesa como uma condenação ao degredo, e tudo isto é estrangeito, como tudo. Vivi, estudei, amei e cri, e hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.”
Muito obrigada, moça de 25 anos. Não posso dizer que quero ser você quando eu crescer porque já passei da sua idade há 7 anos. Mas fico feliz, de coração afagado, por saber que há gente assim no mundo. Um beijo.
ps: na minha salada pode ter bacon?